quinta-feira, 4 de junho de 2009

CORRESPONDÊNCIA DESDE A GRÉCIA - Nada terminou, tudo continua // Carta de A. Kiriakopoulos // Apelo à solidariedade: Um fogo para limpar a Terra

Nada terminou: tudo continua

A insurreição é permanente, está em todo o lado, e é inevitável. A insurreição não espera pelas massas, pela vanguarda ou pelo momento certo.

Embora Dezembro volte todos os anos, nada nunca mais será o mesmo. Ele é guerra; trilhos de cinza deixam o passado para trás, em direcção ao total desmantelamento deste velho mundo morto, contra o qual o ataque acelerou nos últimos meses; essa guerra nunca terá um fim; não há volta atrás. Esta guerra não sabe o que é a inocência, ao mesmo tempo que viver nela nos torna a todos caçadores de vida: aqueles que choram; aqueles que dormem, aqueles que suspiram; aqueles que lhes cospem na cara, aqueles que constroem; aqueles que saem fora. Uma vez despoletada, a revolta continua numa dinâmica de tensão, recuperação e ataque, por parte de muitos, de poucos, na escuridão, na luz; enquanto o nosso tempo, os nossos corpos e a nossa liberdade nos continuem a ser roubados. Não interessa para nada onde é que a revolta se iniciou ou para onde é que ela se dirigirá, o desconhecido em aberto está nas mãos daqueles com a juventude eterna, com as pedras, com a paixão e a gasolina. Tudo continuará.

Sentindo o cheiro a fogo, o estado tirou centenas de pessoas das ruas numa medrosa tentativa de manter o seu frágil poder, de enfraquecer o ataque. Mas não é possível diminuir a rebelião, amansá-la. Enquanto a sociedade prisão continuar a agarrar vidas dentro e fora, não haverá vontade de esperar por um “segundo Dezembro”, porque se a espera nas ruas demora demasiado tempo, a espera na prisão dura uma eternidade, à medida que o estado, o capital e o seu domínio encontram o seu espaço para se enraizarem cada vez mais na normalidade da apatia. Como uma cada vez maior quantidade de medidas de segurança e vigilância, eles tentam alienar a realidade cada vez mais dos seus rebeldes, a alta velocidade, e falam orgulhosamente de ruas limpas e sonhos cor-de-rosa, de lei e ordem.


Mas nada terminou, tudo continua

Enquanto o mundo da autoridade e da exploração construir estradas de diálogo e satisfação, haverá buracos cavados nelas. Enquanto distribuírem rebuçados de dependência e devoção, eles serão envenenados. Enquanto construírem os seus gigantescos muros de separação e castigo, eles serão reduzidos a cinzas. Enquanto todos formos prisioneiros; nada terminou, e a insurreição continuará.

6 pessoas foram retiradas na negação na prática durante Dezembro, e agora, 5 meses depois, o estado está a tentar usar a sua liberdade como exemplo da sua vingança sobre todos aqueles que se revoltaram. Nenhuma chave vinda de políticos, juízes ou guardas será capaz de abrir a porta da sua reclusão.

Apenas um martelo será capaz de libertar, mandando abaixo todas as paredes da prisão. Desta forma, não faremos exigências a quem está no poder, nem faremos qualquer pressão sobre eles para que “façam o que está correcto”. Estamos simplesmente a cavar buracos na sua fortaleza, a minar as suas superfícies, até alcançarmos os nossos amados rebeldes.

- anarquistas



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Carta de A. Kiriakopoulos, desde a prisão de Koridallos

Cinco meses após os acontecimentos explosivos de Dezembro, das detenções em massa e das acusações que tiveram lugar, seis de nós permanecemos raptados nas garras do estado.

Recentemente, o denominado “estado de direito” e os seus servos decidiram alargar a minha detenção pré-julgamento (prisão preventiva), defendendo que o que tem de ser alcançado primeiro é a exterminação da minha pessoa e da minha actividade “criminosa” e a protecção da sociedade. Segundo a sua caracterização, eu sou uma pessoa sem escrúpulos e obcecada. Resumindo, caracterizaram-me como um inimigo da sociedade. Mas os inimigos da sociedade são todos aqueles que, após o assassinato a sangue frio do companheiro Alexis Grigoropoulos, tentaram reprimir o fenómeno social da insurreição violenta em Dezembro, com o uso sem escrúpulos e em massa de gás lacrimogéneo, com a extensão da tortura, o espancamento de manifestantes, e as suas rápidas prisões. Seja como for, desde há anos que sabemos que os bófias, especialmente quando se tratam de manifestações anarquistas, lançam uma guerra química sob qualquer desculpa, para que mais facilmente consigam torturar pessoas. Apesar da nojenta repressão da violência insurreccional de Dezembro, ela continua a persistir e é prova de que o fogo que foi iniciado não pode ser apagado. Afinal, o assassinato de Alexis foi, ao mesmo tempo, a causa e o pretexto da explosão de raiva social.

Como sempre, um papel especial foi desempenhado pelos mass media e os miseráveis jornalistas levaram a sua propaganda aos limites do que é vil. Depois do assassinato estatal de Alexis, o que relatavam era a destruição alastrada por toda a Grécia e que a polícia não tinha feito detenções. Acredito que de que todos nós, presos da insurreição, enfrentamos as mesmas acusações não é coincidência. A linha que o estado traçou foi a mesma para quase todos nós.

Na prisão, o tempo é o pior inimigo. Em particular quando estás sob custódia à espera de julgamento, existe uma incerteza constante pois nunca sabes muito bem quando é que serás liberto. Esta é uma situação que, sem dúvida, te arrasa psicologicamente. Este é também um efeito de estares encerrado, contra a tua vontade, com quatro pessoas 14 horas por dia, numa cela de 9 metros quadrados, planeada para uma só pessoa. Sente-se especialmente quando relações de companheirismo ou de simples compreensão são raras, tal como o são fora das grades da prisão. obviamente, há sempre aqueles que escolhem manter a dignidade e lutar.

O encarceramento é uma luta de guerrilha psicológica quotidiana que te é imposta pelo sistema quando te encontras na prisão. Além disto, tens também os guardas prisionais, que normalmente tratam os presos que tomam parte em lutas (greves de fome, recusa de comida da prisão, exigência de reaver material impresso que tenha sido censurado) de forma depreciativa e manhosa. Um bom exemplo foi a vez mais recente que os reclusos estavam a recusar comida da prisão como protesto pela morte de Alexis, o guarda da ala veio juntamente com outros guardas e ameaçou os presos que estavam a tomar parte no protesto como transferências de prisão disciplinares.

De forma geral, quando não te subjugas ao seu sistema correccional, eles tentam incutir um clima de medo. De qualquer forma, a prisão é como uma grande panela de almas. Se fores um cobarde, ela vai suavizar-te e tornar-te ainda mais cobarde, mas se fores forte, ela tornar-te-á ainda mais forte e mais frio como pessoa. A cela faz sufocar o recluso. No exterior, no pátio da prisão, é a ilusão da liberdade...

Ainda assim, passando por tudo isto, nada terminou, a luta continua

Quem está certo são os rebeldes,

não os chibos nem aqueles que se curvam

(um cântico anarquista grego bastante popular)



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Um fogo para limpar a Terra


Um movimento que seja incapaz de cuidar dos seus companheiros na prisão está destinado a morrer, e por um preço elevado e sob atrozes torturas.

- Daniela Carmignani, Solidariedade Revolucionária

A insurreição de Dezembro foi uma expressão visível e em massa da guerra social que arde constantemente e que irá continuar até à destruição de toda a dominação.

Milhares lutaram nas ruas re-apropriadas da necropolis. Centenas foram detidas e, com procedimentos particularmente céleres, várias foram mandadas para a prisão. Seis delas permanecem presas até hoje. Porque para aqueles no poder alguém tem de pagar pela negação prática mostrada por todos nós contra este mundo decadente.

Nas primeiras duas semanas de Junho os presos restantes de Dezembro, entre eles o anarquista A. Kiriakopoulos, serão levados perante os juízes que determinarão se a sua prisão será alargada. Irão ocorrer dias de acção entre os dias 12 a 15 de Junho, em solidariedade, por toda a Grécia.

A prisão é uma ferramenta directa e violenta que o poder tem à sua disposição para usar contra aqueles que não lhe servem ou que se recusam a seguir as suas regras. Especialmente em momentos de luta ou revolta intensificadas, a prisão tem o papel de isolar os inconvenientes para enfraquecer o nosso ataque colectivo e instigar o medo naqueles que possam estar dispostos a juntar-se à luta. Desta forma, o sistema prisional e de justiça são estruturas que têm o objectivo de inibir a generalização do conflito social. Por isso, a solidariedade com todos os presos pela insurreição de Dezembro é necessária para o avançar do projecto revolucionário.

A solidariedade não deveria ser vista através das lentes do dever, da obrigação ou da caridade, nem requer uma relação pessoal ou uma identificação política absoluta com aqueles que estão presos, sendo sim um meio para fortalecermos as nossas ligações enquanto colaboradores numa conspiração contra o existente. A solidariedade é a nossa arma, com a qual atacamos não apenas a prisão mas todas as estruturas de poder, numa continuação da luta social como um todo. Simultaneamente, a solidariedade é uma ferramenta usada para obter o resultado prático imediato da libertação dos nossos companheiros que estão na prisão.

Este é um apelo aos companheiros, onde quer que eles se encontrem, para iniciarmos uma vaga de solidariedade que provoque tremores na espinha aos cabrões no poder. Vamos provar-lhes que o síndrome de Atenas é, de facto, uma doença contagiosa.

Seja dentro ou fora das grades da prisão, a perspectiva insurreccional é uma condição permanente que não espera por um momento específico, que não aceita a caridade, mas que ataca de forma directa, em todo o lado, sempre.

Até à destruição de todas as prisões.

LIBERDADE PARA O COMPANHEIRO A. KIRIAKOPOULOS E PARA TODOS OS PRESOS DE DEZEMBRO

SOLIDARIEDADE COM OS ACUSADOS

- Pela generalização do confronto insurreccional

Anarquistas


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